quinta-feira, 28 de outubro de 2010

De Cara

(figura extraída do livro 'Morte e Vida Severina', João Cabral de Melo Neto)


De Cara


Não é nada,
Só essa cara amarela
do dia que passa
Corrói minha calçada
esse sol
que não tem mais nada a fazer
do que ficar esquentando minha cabeça.
Não é nada,
É só essa chuva fina
esse dia frio
Essa cara azul
de quem venta
Que não tem moral
pra me cobrar sorrisos.
Não é nada,
É só o meu caro vizinho
que anda virado
e não pára,
e resolve discutir na madrugada,
e atira coisas no chão,
na parede, no teto,
e dá descarga
às seis da manhã.
Não é nada,
É só um passado pesado
atrelado feito mordaça
É só um futuro negro sem cara
erguido sobre uma base quebrada.
Não é nada,
É só ter que acordar todo dia
e viver uma vida emprestada
e pagar juros sobre juros
pra se deteriorar na rotina
ou numa cara garrafa de cachaça.
Não é nada,
É só a minha cara amarrada
e meu senso-crítico
que me impedem de ser aceita
e sorrir pra qualquer mancada.
Eu não acho a vida perfeita
e não acho a vida sem graça,
mas se a vida tivesse corpo,
com toda certeza,
já teria levado
um tapa na cara!



Isa Blue

sábado, 23 de outubro de 2010

Coração burro...




Coração estúpido,
só gosta de quem não gosta da gente
gosta de sangrar, de sofrer, de sentir
o sentimento mais puro do mundo
é aquele que vai nos destruir.

Coração burro,
não ama ninguém
ama todo mundo
Tantas penas, tantos planos
tantos sonhos que se foram
e as marcas que deixaram
ainda doem lá no fundo.

Coração infeliz!
Quem mandou você viver
quem mandou você existir?
Você nasceu pra eu morrer
e tantas vezes viu meu fim

Coração idiota!
Mais burra sou eu que te ouvi
e te dei corda
Por sua causa sou um farrapo
por sua causa sou um alcoólatra
Sei que vou morrer só
e você ainda vai rir por último
no fim da luta

Coração filha da puta!


(Isa Blue)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"A gente faz amor por telepatia..."

(...pela falta de identificação, doa-se este poema. rs*)





Amor por Telepatia


Desafio de imaginar
seus fios de cabelo
roçando em minhas coxas
suas mãos presas fáceis
em meus seios
o suor nas suas costas
molhando meus dedos.

Desafio de imaginar
como é seu corpo
seus pêlos seus pentelhos
seu pau e seu gosto
e que gosto tem o seu gozo
e onde estarão seus dedos
e como será seu sexo?

Desafio de imaginar
sua pele colando
como seus olhos me comem
seu cheiro de homem
sua carne macia
seus ruídos seus gemidos
se me bate ou me beija
se sou puta ou deusa
se me fode ou faz amor
...seja como for.

Desafio é de esperar
E você, será que já pensou?
será que se masturbou?
será que gozou na minha cara?
na mesma cama que faremos amor
quem sabe já se concretizou
a nossa primeira transa
imaginária.


Isa (red) Blue

Chave de Sol





Chave de Sol
(Isa Blue claro) rs

A manhã me esbarrou sorrindo
Enfim tudo ficou claro
Tinha um raio de sol particular
Amanheci do lado de fora
E do lado de dentro
Aurora.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ZINE

Pega aí meu zine, pra quem não tem. O próximo está vindo! (Para ampliar a imagem é só clicar em cima.)


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ciúmes




Oi? Ciúmes? Tenho sim
Ciúme de você e de mim
Ciúme da sua cama vazia
e ciúme da minha
Ciúme de quem pode te olhar
todos os dias
Ciúme do olho-mágico
da sua vizinha
Ciúme do bar
em que você fica
Ciúme do olhar
das outras meninas
Ciúme da cerveja
no seu copo
Ciúme do suor
no seu corpo
Ciúme de um amor
do passado
Ciúme dos retratos
no seu quarto
Ciúmes? Tenho e não demonstro
são só monstros
atordoados
pelos nossos encontros.




Isa Blue

POEMASBR - ISA BLUE

sábado, 2 de outubro de 2010

Sexta À Noite




Eu acredito na sexta-feira à noite como acredito na Ave Maria
como acredito no Hare Krishna
como acredito na igreja batista
Eu acredito na sexta à noite como um conto-de-fadas
como uma história que se torna real
como a felicidade roubada
Eu acredito na sexta à noite como a voz do silêncio
como o sucesso dos ideais
como o amadurecimento
Eu acredito na sexta à noite como uma pornochanchada
eu subestimo os seus cardeais
visito almas penadas
Eu acredito na sexta à noite como a voz dos funerais
como quem decreta quem está certo
como quem recita imortais
Eu acredito na sexta à noite
como a voz do amor
como a voz ultravioleta do eterno pavor
Eu acredito na sexta à noite como a hora sem alcance
onde tudo pode e tudo acontece
onde tudo está a lance
Eu acredito na sexta à noite como à Bíblia que diz
que todo mundo tem livre arbítrio
onde o mundo é feliz.





Isa Blue

Dois rimam




Se era um jogo, nenhum de nós sabia.
Se éramos manipulados por questões diversas, isso era explícito.
Ele insistia em carregar nos ombros
as dores de que proviam humanidades
Ela insistia em carregar tristezas
e culpas em seu calibre apático.
Eles eram feitos um para o outro
disso se tinha certeza
ele era feito de saudades
e ela, de tristezas
Um era louco por feridas
outro, por desencantos,
um se perdia por inteiro
outro amarrava o seu canto
mas dois eram inteiros
quando a voz balançava em seus prantos
Dois eram tiros certeiros
quando um condizia seus encantos.


Isa Blue

Questão de Escolha




Eu sei a sua verdade
porque seus olhos são janelas
onde me debruço
sob qualquer sinal de aviso
Eu sei a sua amizade
porque me rendo e te rendo
por vezes me enredo
nas tuas encostas
Eu sei a diversidade
porque te aceito
assim como me vens
sem múltiplas desculpas
Eu sei a sinceridade
porque te olho e me vejo
com simplicidade
diante de tantos desejos
Eu sei a simplicidade
porque é você
a simples escolha
de ser quem você é.



Isa Blue
(sob influências)